Tenho tentado descobrir o que me levou a ter um interesse tão consistente pelo premiado autor William Faulkner.
Os cenários contrastantes e na maioria das vezes interioranos, com discussões
importantes sobre a vida, sobre os limites humanos, além de uma
linguagem que exige muito trabalho do interlocutor, mesmo em relação à
trama, me lançaram uma espécie de desafio, como se fosse uma nova esfera
de compreensão. Chamou-me a atenção imediatamente um conto apresentado
pelo meu mentor, Francisco Escorsim, intitulado 'Uma Rosa para Emily';
a atmosfera gótica me absorveu completamente. Desde então, é uma
questão de respeito às letras dedicar-me ao estudo de sua obra. E vou
fundo...
Na trama, Lena Grove, uma gestante adolescente, segue rumo ao Mississippi em busca do pai de seu filho. Ela pega carona até a pequena cidade de Jefferson, lugar onde se localiza uma serralheria. Um dos trabalhadores da fábrica, Joe Christmas, é um homem taciturno, racialmente ambíguo, e que aparece de repente na fábrica um dia em busca de trabalho. Após ganhar o emprego, logo ele se junta a outro empregado da fábrica, Joe Brown. Os dois formam uma parceria, fabricando e vendendo bebidas alcoólicas ilegalmente, e acabam, com o tempo, deixando o emprego na fábrica. Outro dos trabalhadores, Byron Bunch, fica intrigado e inquieto quando Lena Grove repentinamente aparece na fábrica um dia. Ele conta ao antigo e desonrado reverendo da cidade, Gail Hightower, dos seus esforços para cuidar da menina. Logo, Lena percebe que o homem que ela procura, o pai de seu filho (Lucas Burch), é, na verdade Joe Brown. À época da chegada de Lena à cidade, Brown é detido na cadeia após o assassinato de uma mulher local, Joanna Burden, e o incêndio de sua casa. Joe Christmas, o amante ocasional da senhora Burden, é o principal suspeito.
A narrativa, então, toma vários caminhos, explorando o passado de vários dos personagens. Como um jovem reverendo, Gail Hightower, assegura uma igreja em Jefferson para alimentar sua obsessão por seu avô, um confederado da cavalaria que foi morto na cidade durante a Guerra Civil. A jovem esposa de Hightower é infiel e apresenta problemas mentais. Ele acaba falecendo em uma queda da janela de um hotel de Memphis, onde se encontrava com outro homem. Um escândalo se instala, e os paroquianos o associam ao reverendo, que é forçado a demitir-se do cargo.
Enquanto criança, Joe Christmas é deixado na escada de um orfanato. Quando uma nutricionista do lugar acredita, erroneamente, que Joe a ouviu realizando atividade sexual com um jovem médico no quarto dela, ela teme perder o emprego. Para eliminar este risco, ela ameaça expôr a origem birracial de Joe e, assim, que seja transferido para um orfanato só para crianças negras. Ela discute o plano com o zelador do orfanato, que sequestra Joe e o leva para Little Rock, onde ele é encontrado e devolvido, conseguindo ser adotado duas semanas depois por um severo homem religioso, o senhor McEachern, e por sua esposa. O novo pai adotivo de Joe o submete a espancamentos regulares. Na medida em que Joe cresce e entra na puberdade, ele acaba cruzando o caminho de Bobbie, uma prostitua que trabalha como garçonete numa cidade próxima. Quando o senhor McEachern encontra seu filho dançando com Bobbie, uma luta se inicia, e Joe acaba matando seu pai adotivo golpeado sua cabeça com uma cadeira. Abandonado por Bobbie e pelos próximos a ela, Joe abraça uma vida de fuga e segue vagando por mais de quinze anos, acabando, por fim, se instalando em Jefferson. Nesta cidade, Joe fica numa cabana na propriedade de Joanna Burden, e os dois, rapidamente, tornam-se amantes. A relação deles é marcada por paixão, violência e longos períodos em que ambos se ignoram. A senhora Burden quer um filho e deseja engravidar, mas Joe é fortemente contra esta ideia. Depois de um tempo, Joe Brown vem viver com Joe Christmas na cabana. A senhora Burden tenta ajudar Joe Christmas financeiramente, mas sua intromissão apenas provoca a ira neste. Uma noite, ele selvagemente a ataca e a mata com uma lâmina depois de ela tentar atirar com uma pistola contra ele numa aparente tentativa de assassinato seguido de suicídio. O sobrinho da senhora Burden, em New Hampshire, oferece uma recompensa de mil dólares pela captura do assassino de sua tia. Grupos de busca saem à caça de Joe Christmas, que evita a captura por dias, fugindo ao ponto de passar fome e atingir a exaustão. Lena, nesse ínterim, muda-se para o interior da cabana em que os dois Joes vivem na tentativa de se preparar para o nascimento do seu filho; Byron Bunch fica numa tenda por perto.
Joe Christmas é apreendido nas ruas da vizinha Mottstown. Seu avô materno biológico, o tio Doc Hines, passa pela multidão e amaldiçoa Joe, pedindo pela sua morte. Quando os oficiais de Jefferson chegam para pegar o prisioneiro, a senhora Hines também atravessa a multidão esperando ver o rosto do neto que o marido disse ter morrido enquanto criança. Os Hines, então, tomam o trem para Jefferson juntos. Byron e os Hines chegam à casa de Hightower e é revelado que o pai de Joe Christmas era um trabalhador de circo que tentou fugir com a filha dos Hines antes de o tio Doc atirar e matá-lo. O tio Doc acabou colocando o bebê no orfanato em Memphis onde ele trabalhou como um zelador. Byron quer que Hightower minta e afirme que Joe Christmas esteve com ele, em sua casa, na noite em que Joanna Burden foi assassinada. Hightower fica com raiva e pede que todos saiam. Lena entra em trabalho de parto, mas no momento em que Byron chega com o médico, Hightower já fez o parto. Assistindo ao parto está a senhora Hines, que erroneamente acredita que Lena é a sua filha morta há tempos, Milly, e que o recém-nascido é seu neto, Joe Christmas. Byron faz com que Joe Brown esteja na cabana com Lena; ao chegar lá, ele fica chocado ao ver Lena segurando o seu filho recém-nascido, pula uma janela dos fundos e foge. Byron vê Brown fugir e tenta impedi-lo, mas este, sendo bem mais forte que aquele, o espanca e foge num trem. Joe Christmas, neste ínterim, escapa de seus captores enquanto está sendo levado através da praça da cidade. Em pouco tempo, ele é perseguido, baleado e castrado na cozinha de Hightower por um caçador de recompensas: Percy Grimm. Depois, o envelhecido Hightower reflete em seu passado e se prepara para a própria morte. Depois de uma viagem pela estrada, um trabalhador local perto de Jefferson conta à sua esposa como ele deu carona a um curioso casal - uma mulher com um recém-nascido acompanhado por um homem que não era o pai da criança. O casal, Lena e Byron, não se entusiasmavam enquanto buscavam o pai biológico do bebê, e o trabalhador os levava ao longo do Tennessee.
Como disse uma vez Faulkner em uma entrevista, o que mais o fazia se lembrar das obras dos grandes autores eram os personagens, e não os títulos ou tramas; assim, algo que sempre merece bastante discussão e análise são os personagens principais em suas obras. O protagonista de Luz em Agosto, Joe Christmas, é, também, um dos mais enigmáticos em todos os romances do autor. Um homem irritado, ele é uma sombra que caminha à margem de dois mundos, não pisando suavemente e nem confortavelmente o mundo dos negros e nem dos brancos. Em sua primeira aparição, ele provoca a curiosidade de parte dos trabalhadores da fábrica, acompanhada do desprezo pela sua indiferença presunçosa. Embora Faulkner apresente muitos detalhes da vida e do caráter de Joe ao longo do romance, este permanece distante, fechado e indescritível. Na fábrica, ele é uma espécie de lousa em branco, em que os outros trabalhadores projetam seus preconceitos tentando definir quem verdadeiramente seria o homem misterioso; muitos acreditam que ele vem de uma país distante e desconhecido. Várias correlações soltas conectam a vida de Joe Christmas à de Jesus Cristo. Os dois compartilham as mesmas iniciais; Joe foi deixado nos degraus do orfanato no natal e foi assassinado quando tinha trinta e poucos anos. Estas sugestões de similaridade, entretanto, são soltas, permitindo a Faulkner complicar e escurecer a natureza moral do protagonista. A caracterização que o autor dá à Joe desafia e definitivamente subverte qualquer comparação cristã. Qualquer tentativa de visualizar Joe como um mártir é complicada por sua vida de violência e seu desprezo geral pela humanidade. Ele surge como um anti-herói moderno classicamente falho e conflituoso. Um indivíduo sem identidade, sem ter consciência do seu nome de nascimento, muito menos de sua herança racial, ele vaga numa busca fútil por lugares aos quais possa pertencer. Enquanto a vida de Cristo inspira louvor, a de Joe gera pouca simpatia por parte daqueles ao seu redor. As condições sombrias que envolvem sua formação explicam pouco sua necessidade compulsiva de infligir dano a outros (em dois casos, a ponto de causar a morte). A tentativa de Joe de recuperar e estabelecer sua identidade no mundo é marcada por um desdém pelas pessoas que poderiam possivelmente provê-lo o conforto que procura.
Superficialmente, à luz das referências suaves às imagens bíblicas que Faulkner utiliza no romance, Lena Grove sugere Maria se dirigindo a Belém - mas Maria como uma adolescente perdida e com 'olhos arregalados'. Em vez de um estábulo, ela dá à luz um filho numa cabana rústica, eventualmente seguindo junto com o seu José substituto, Byron Bunch. Mas, é aí que a comparação termina: mais do que tudo, Lena pode ser vista como uma simples personificação da força vital do romance. Enquanto Joe traz violência e morte a Jefferson, Lena traz o seu filho em gestação e uma forte determinação em encontrar o pai de seu filho. Ela substitui Joe e suplanta a sua presença no romance, dando à luz seu filho num berço dentro de um abrigo simples que antes havia sido o lar dos dois Joes criminosos. Enquanto Joe Christmas é a figura trágica clássica de Faulkner, condenada a lutar e falhar, Lena Grove representa um outro tipo do autor, frequentemente reservado a figuras femininas em seus mundos fictícios. Ela é 'o andarilho', a jovem inocente, que crê na sua determinação para legitimar seu bebê. Lena é uma sobrevivente, ainda que ela não lute contra os desafios e privações que ela enfrenta. Ao mesmo tempo, ela não permite que a sua pobreza, inocência e falta de instrução conspirem contra ela. Ela aceita o sofrimento com pouca resistência, enfrentando-o de frente, suportando-o e, depois, seguindo em frente. Suas andanças enquadram a narrativa: no começo, ela entra em Jefferson sozinha; a seguir, em sua breve e simbólica escalada, o nascimento de seu filho oferece um breve vislumbre de esperança para uma cidade marcada por assassinatos e discórdia racial. Lena então ganha a estrada de novo, acompanhada por seu filho e um protetor e admirador mais velho, abraçando a liberdade que uma vez marcou os anos de andanças de Joe Christmas.
Outro personagem importante no romance é o Reverendo Gail Hightower. Muito de sua caracterização envolve sua peculiar e obsessiva fixação na unidade de cavalaria Confederada de seu avô. Embora a poeira e os trovões que a unidade despendeu tenham passado há muito tempo, o barulho dos cascos dos cavalos e o clamor ainda ecoam na memória de Hightower. Eles servem como um poderoso lembrete das relações difíceis que os humanos têm com o passado - sua carga e onipresença. Através de Hightower, o passado se torna uma entidade viva e que nunca é esquecida ou deixada para trás. Suas lições duras também nem sempre são aprendidas, como a violência e a divisão racial que assola Jefferson e seus arredores quase tão profundamente como na época da Guerra Civil. A vida de Hightower se torna um lembrete desagradável de que, para muitos, não há recomeço, não há esperança para uma nova direção ou mudança. O comportamento errático de sua esposa, com o consequente suicídio, dispara um processo de declínio gradual, enquanto Hightower carrega a culpa e o estigma do escândalo. Ele se pune, e a comunidade em sua maioria também o pune, por se recusar a admitir a derrota completa em deixar a cidade após ter sido afastado de suas atividades. À luz do revés pessoal e da decepção inesperada, a sua vida representa um testamento da reafirmação da dignidade e orgulho humanos. O orgulho assume um duplo significado nas reflexões de Hightower; ele tenta recuperar o orgulho de si mesmo, seu auto-respeito e autoestima, enquanto resistindo à vaidade, uma resistência orgulhosa contra as fofocas e rumores que correm pela comunidade. Em suas reflexões e ruminações, ele surge como um centro moral e filosófico do romance. Em meio às tragédias e circunstâncias que marcaram sua vida, ele é capaz de salvar a maior força: o autoconhecimento e a sabedoria. Ao longo do curso de sua vida, ele também é capaz de confrontar e fazer descansar os fantasmas da família e o legado de seu passado doloroso, que ainda o assola.
O último personagem que merece menção é Byron Bunch. Inerte, desgastado por anos de maçante rotina e por trabalhar seis dias por semana, ele vive em um mundo ilhado projetado no sentido de evitar qualquer emaranhamento pessoal, emocional ou de outra natureza. Quando Lena chega à fábrica em Jefferson, sua situação desencadeia uma espécie de instinto em Byron para alcançar e, finalmente, se envolver com outra pessoa. Não há dúvida de que Byron é um homem bom: ele vive honestamente, de forma íntegra e dirige um coral numa igreja rural aos domingos, retornando ao início de suas atividades de trabalho na manhã do dia seguinte. Mas sua boa vida, regrada, é conseguida através de uma vida sob regime de liberdade de qualquer tentação ou desafio. Ele viveu moralmente evitando qualquer engajamento com o mundo ao seu redor. Seu envolvimento crescente com Lena tem paralelo com um despertar gradual nele enquanto ele tenta se transformar a partir do homem que ele era - o homem que protegeu a si mesmo tão rigorosamente de experimentar a dor, o sofrimento ou o conflito. A amizade de Byron com Hightower não apenas provê uma fonte de inspiração e desafio muito necessários como também adiciona uma nova camada de complexidade moral e filosófica em sua vida. Byron procura o seu amigo para aconselhamento e sabedoria e, por sua vez, acaba revelando seus desejos e intenções através de seus diálogos com o ministro destituído. Hightower lança dúvida na pureza dos sentimentos de Byron em se lançar desinteressadamente para ajudar Lena e questiona sua suposta falta de motivo em melhorar a sua situação posteriormente. Byron é forçado a resolver seus sentimentos por Lena, confrontando tanto a opinião pública como seu próprio egoísmo, concluindo, no final, que ele é um homem honrado que escolheu viver de modo mais engajado e presente. O desejo de Byron de enfrentar Joe Brown, de apanhar de um homem mais forte, é uma espécie de despertar visceral de que ele necessita. Isto revela, em última análise, sua constatação em se envolver na vida de outra pessoa e seu desejo de arriscar sofrer danos pessoais. Byron está determinado a permanecer ao lado de Lena e lida com as emoções conflituosas e vulnerabilidades que experimenta ao amar outra pessoa. No fim, ele pode ainda ter muito a aprender quando se trata de cortejar e cuidar de Lena, mas ele conseguiu encontrar, finalmente, uma liberdade e um propósito para a sua vida, até então ignorada e evitada.
Tratando dos temas do romance, tecerei comentários sobre alguns deles. O primeiro que merece destaque é a questão do peso do passado. A história, no sentido amplo do termo e também no sentido da história pessoal, toma grandes proporções em Luz em Agosto. A senhora Burden e o reverendo Hightower herdam um legado complexo de orgulho familiar, conflito e vergonha. A senhora Burden vive sua vida como um sacrifício pessoal a uma causa, sentindo uma obrigação de honrar o compromisso de sua família com a abolição e com a igualdade com os negros. É irônico que sua caridade em si cause sua ruína, já que o homem que ela tenta ajudar, Joe Christmas, brutalmente a assassina quando ele se ressente e se sente ameaçado pelo impulso paternalista dela em controlá-lo e melhorá-lo. O reverendo, enquanto isto, está preso no passado, dividido entre a imagem romântica de seu avô, o heroico cavaleiro morto enquanto roubava galinhas, e de seu pai pacifista. Sua relação não resolvida com sua história pessoal compromete sua efetividade como líder espiritual e como marido, e desempenha um papel na sua excomunhão. Joe Christmas está no lado contrário: ele é um homem sem história, além da reserva pessoal de memórias que formam um padrão doloroso de violência, abuso e negligência, tanto autoinfligidos como chegam a ele por meio daqueles envolvidos em cuidar dele. O passado, do qual ele pessoalmente não tem consciência, prova ser uma força muito poderosa de se escapar ou resistir. A natureza misantropa e homicida dele é parcialmente explicada quando sua origem começa a se tornar clara. O avô que ele conhecia apenas como o zelador do orfanato prova ter muito em comum com o neto. Ambos são violentos e propensos a comportamento antissocial e de assassinato. Lena emerge como a única figura capaz de contornar o peso opressivo do passado. Ela é uma criança livre de estigma pessoal ou vergonha. Como Joe, ela é órfã, mas em vez de fugir do passado, ou ficar simbolicamente aprisionada por ele, no final, ela caminha de forma otimista para um futuro ainda sem roteiro.
Observa-se também, como tema, a luta por um sentido coerente de identidade. Embora o romance explore questões de gênero e raça especificamente, estas correntes temáticas se cruzam para se tornar parte de uma pesquisa mais extensa do autor acerca da natureza da identidade e de como ela é influenciada pela história, natureza, sociedade e vidas individuais. Os habitantes de Jefferson aceitaram tacitamente o reverendo, Joanna e Joe, mas cada um destes personagens deliberadamente resiste ou abandona a influência distorcida de uma ordem moral e social rígida. A sociedade, representada na voz coletiva da comunidade, tenta sobrepor noções restritivas e simplistas de identidade baseadas em categorias mais gerais, tais como raça e gênero. Enquanto alguns indivíduos necessitam desses estímulos externos para fornecer a si mesmos um senso de clareza, ordem e definição, outros lutam sob o peso do que são frequentes tentativas de restringir e classificar. Para Joe, a ausência de uma autoconsciência estável e identificável assume trágicas dimensões. Sua andanças se tornam uma jornada simbólica da tentativa de auto-descoberta, uma busca por completude, mas elas acabam se tornando tragicamente jornadas ilusórias e elusivas.
Outro tema é o do isolamento do indivíduo; o romance é preenchido com figuras solitárias que escolhem ou são forçadas a habitar as margens da sociedade. Byron se protege do mundo exterior com sua estratégia inconsciente de desapego. Lena é uma adolescente prestes a ser mãe que, buscando o apoio de Joe Brown, descobre que ela pode ficar sozinha e que, na verdade, seria o melhor. Ela é o catalisador que facilita a entrada gradual e final de Byron no mundo das interações humanas e contato. Embora sua família não tradicional ainda esteja se formando ao final do romance, eles são os únicos personagens capazes de resolver o enigma de sua própria estranheza e solidão. Hightower e Joe Christmas são descritos como vivendo fora do tempo, habitando a própria ordem temporal e um mundo deles mesmos. Após a traição que Joe experimenta por parte de Bobbie Allen, reativando o abandono e a negligência que marcou a infância dele, Christmas passa a viver uma existência sem rumo e sem restrições, deliberadamente sabotando qualquer oportunidade de estabelecer um laço emocional ou conexão com outra pessoa. Sua única chance potencial de contato humano, com a senhora Burden, termina não com grande intimidade e conexão, mas em assassinato e ira.
Entre os motivos, alguns merecem destaque. O primeiro, o uso de palavras compostas, é algo emblemático para o autor, que demonstra sua habilidade em ultrapassar os limites da articulação sob o propósito de atender às suas necessidades estéticas. O uso deste mecanismo sugere que a reserva de palavras existentes em língua inglesa, além dos meios tradicionais de combinação, composição e emprego, são insuficientes para explorar o complexo estado de consciência e conhecimento dos personagens. Exemplos abundam no romance. Faulkner emprega estes neologismos longos, palavras de sua própria invenção, como um meio de acessar ou enaltecer os estados indescritíveis, complexos e contraditórios que não são fáceis de se explicar ou mesmo serem traduzidos no reino das palavras escritas. As combinações tentam aproximar o grande abismo entre a aparência e a realidade, pensamento consciente e inconsciente, os estados externo e interno do ser. Outro motivo é a fluidez do tempo. No romance, há uma mistura complexa de eventos contados em uma dinâmica de flashbacks e narração em tempo presente. A natureza cíclica das andanças de Lena, primeiro para dentro e depois para fora da cidade, serve como escopo para a ampla rede narrativa contida na obra. Ao longo da narrativa, Faulkner move sua história para a frente e para trás no tempo. Vários eventos se sobrepõem e se cruzam; ações tomam lugar simultaneamente em diferentes partes de Jefferson e são, então, relatadas ou contadas por um coro de vozes que competem entre si, cada uma sob a sua própria óptica. Por exemplo: o assassinato de Joanna Burden já aconteceu quando Lena chega à fábrica no primeiro capítulo, mas não somos apresentados aos motivos e detalhes deste evento até o fim do capítulo 12. Esta estrutura e abordagem ressaltam a noção de Faulkner de que nada acontece isoladamente. Em vez disto, os diversos eventos que compõem o romance, se passados ou presentes, são parte de uma cadeia de longo alcance de causalidade que remontam à Guerra Civil e vai além. Justapondo vários períodos de tempo e pontos de vista, o autor adquire uma complexidade e ressonância em sintonia com o mundo multidimensional que ele cria.
Um último e interessante motivo é o dos nomes. Faulkner seleciona deliberadamente os nomes dos personagens de modo a dar sutil ressonância ao rico retrato das vidas cruzadas que eles representam. O reverendo isolado da sociedade e auto-exilado tem isto assinalado em seu nome - Hightower ('torre alta'). A família da senhora Burden sofreu tragédias pessoais e dificuldades em estabelecer sua presença em Jefferson (Burden significa fardo). Lena Grove é uma criança da natureza, estando mais em casa entre as árvores e espaços amplos do que nos confinamentos da civilização tradicional (Grove significa bosque). Para Joe Christmas, um nome, e a história e senso pessoais que ele carrega, é um luxo que a ele nunca foi concedido. Sua ausência de nome ao nascimento, e a ausência de identidade que isto implica, pode ser visto como a tragédia primordial de sua vida e a força motriz que sua busca constante e incansável representa. Ao final do romance, o filho que nasce de Lena permanece sem nome, livre das expectativas que o ato de nomear pode gerar.
Quanto aos símbolos, podemos discutir sobre alguns deles. O primeiro seria o da ovelha morta; num romance recheado de imaginário religioso, Joe Christmas ter matado uma ovelha é uma breve mas evidente adição ao conjunto de símbolos cristãos. Como muitos adolescentes, Christmas vivencia o início de seus impulsos sexuais e a curiosidade e a busca por conhecimento aumentam incessantemente. Quando ele primeiro entra em contato com o ciclo menstrual de uma mulher, ele tem nojo e repulsa pelo conhecimento. A única catarse que ele encontra é no sangue das ovelhas que ele mata de um fazendeiro no campo. O ato irracional e impulsivo, e quase ritualístico, antecipa as duas mortes adicionais que o virão assolar e, finalmente, selar o seu destino. Além disto, a ovelha pode ser vista como um análogo ao próprio Christmas: uma ovelha que será sacrificada ao se dirigir voluntariamente para os caminhos que o levarão à morte e destruição. A morte brutal da ovelha também antecipa o tiroteio e castração que esperam Joe na cozinha do reverendo Hightower.
Outro símbolo é o da fumaça subindo da casa da senhora Burden. O dia fatídico em que Lena chega a Jefferson é marcado também pela morte da senhora Burden e pelo incêndio à sua casa. Até aquele ponto, Byron Bunch tinha seguido de forma simples e ritualizada sua existência descomplicada. Ao encontrar Lena na fábrica, entretanto, ele fica tão distraído e perturbado pela sua presença que nunca percebe conscientemente a fumaça subindo no horizonte, disposta de forma clara como se 'tivesse sido colocada lá para avisá-lo'. Mais tarde, o narrador onisciente constata que, quando Byron percebe que Lucas Burch e Joe Brown são a mesma pessoa, parecia a ele que o destino e as circunstâncias tinham colocado um aviso em direção ao céu (a fumaça), mas ele foi 'muito tolo' para conseguir compreendê-lo. Mas a impressão de Byron de que a fumaça representaria um mau presságio é outro exemplo de má interpretação do romance. A fumaça serve não como um prenúncio de maus tempos que se aproximam, mas como o fim e a passagem de uma ordem vigente. O fogo na casa de Burden serve como uma limpeza ritualística, libertando Jefferson da tragédia e da violência que a marcaram naquele agosto e pavimentando o caminho para a presença de Lena, enquanto gestante, e para o novo senso de comprometimento e obrigação que se desenvolve em Byron.
Um último símbolo é o da estrada. A noção genérica da estrada emerge como uma poderosa metáfora da busca por auto-aceitação e encaixe que Lena e Joe empreendem no romance. A imagem primeiramente aparece quando Christmas mata seu pai adotivo e é abandonado por Bobbie Allen e seus companheiros. Pisando fora da varanda da casa abandonada, Joe entrou na estrada pela qual correria e fugiria por quinze anos. Nas andanças infrutíferas que se iniciam, a estrada tipifica a busca incansável e autodestrutiva de Joe por um significado. A estrada também toma dimensões de uma libertação tentadora da sua consciência aprisionadora. Mas acaba funcionando como uma miragem e um engodo que não fornecem resolução e nem as respostas que Joe procura. A estrada de Lena leva a novas esperanças e possibilidades, enquanto a de Joe o afoga em mais sofrimento, amargura e, finalmente, morte.
Percebendo a complexidade que é esta obra deste grande gigante da Literatura Universal, sigo numa jornada de descoberta e enriquecimento pessoal. É muito gratificante para a alma encontrar autores que escrevem com o coração e de forma tão magistral, e de saber que sua obra é reconhecida mundialmente em virtude de importantes ensinamentos e constatações para o ser humano. Procurando conhecer mais sobre os motivos humanos e sobre o sentido de tudo, seguirei na obra deste importante autor; ajuda, por fim, a viver melhor. Sem dúvida que sim! Boa semana a todos!
Ao longo de uma carreira de quase quatro décadas, William Faulkner
gozou de uma das reputações mais estimadas entre os romancistas do
século XX. Nascido em Nova Albânia, Mississippi, em 1897, ele é mais
conhecido por uma série de romances que explora o legado histórico do
Sul dos Estados Unidos da América, a tensão e muitas vezes violência presentes no meio e seu futuro incerto. Grandes obras suas com esta temática são O Som e a Fúria (1929), Enquanto Agonizo (1930), Luz em Agosto (1932) e Absalão, Absalão! (1936), todas ambientadas no condado ficcional criado pelo autor, Yoknapatawpha, no Mississippi. Ao criar um ambiente imaginado, Faulkner permite que seus personagens habitem um mundo que serve de espelho para um microcosmo do Sul daquele país. O condado lendário funciona como uma lente segura e distante, ainda que magnificando, através da qual ele examina as práticas, costumes e atitudes que dividiram e reuniram os povos do Sul desde o início da nação. Enquanto as estórias de Faulkner se desdobram, seus personagens tentam suprir uma existência emocional, mas a pobreza, o racismo, a violência, a falta de educação, entre outros fatores, conspiram para entrelaçar suas vidas com tragédia. Faulkner estava interessado, particularmente, nas implicações morais da estória, descrevendo um tempo no qual o Sul estava emergindo da Guerra Civil e da Reconstrução e tentava se livrar do estigma da escravidão. Ele retrata os habitantes do Sul como envolvidos em modos que competem e evoluem, divididos entre uma ordem mundial mais nova e outra mais velha mais tenazmente enraizada. Religião e Política frequentemente estão aquém de seus objetivos implícitos de promover ordem e guia, e servem apenas para complicar e dividir. Enquanto isto, a sociedade, uma entidade repressiva se não asfixiante, com suas fofocas, julgamentos e duros pronunciamentos, conspira para frustrar os desejos e ambições de indivíduos lutando para descobrir e abraçar suas identidades. Através dos cenários ficcionais do autor, os indivíduos frequentemente vivenciam batalhas épicas, impedidos de realizar seus potenciais ou estabelecer um senso firme de afirmação de seu lugar no mundo.
William Faulkner (1897-1962) |
Como faz em muitos de seus romances, Faulkner desenvolve uma abordagem modernista decidida em 'Luz em Agosto', abandonando uma estória linear convencional e contando o interior e motivação dos personagens. Durante um breve e fatídico período de tempo no mês do título do livro, as vidas de vários personagens se sobrepõem e sofrem uma intersecção na cidade de Jefferson, Mississippi. Ao longo do caminho, o tempo é fraturado, contraído, alongado e manipulado enquanto eventos são recontados sob uma nova perspectiva, e então revisitados sob um ângulo inteiramente novo, integrando-se à complexidade do ponto de vista de um outro personagem, com frequência aparentemente não relacionado. Em última análise, a abordagem de nenhum dos personagens emerge como a confiável ou completa; em vez disto, uma multiplicidade de vozes subjetivas emergem, dissecando e relacionando eventos algumas vezes erroneamente ou de forma enviesada. De forma similar, Faulkner se abstém de usar uma voz narrativa singular e unificada. Suas sentenças longas e sinuosas tentam reproduzir os saltos erráticos de seus personagens, frequentemente por meio de padrões de fluxo de consciência. Ele emprega coloquialismos, dialetos regionais, palavras compostas de sua própria invenção, monólogos, pensamento inconsciente, entre outros, para criar um mundo complexo e ricamente texturizado, tão variado e incontrolável como o mundo em si.
'Luz em Agosto' está mergulhado em violência, preocupado com as distorções e distrações da religião e do racismo, talvez influenciado pelo fato de que Faulkner tenha iniciado o romance logo após sua esposa, Estelle, ter dado à luz uma filha que faleceu alguns dias após o nascimento em janeiro de 1931. Usando o título de 'Dark House' (Casa Escura), Faulkner explorou e sondou os espaços interiores frequentemente escurecidos de seus personagens, feridos de várias formas por suas incursões no mundo. Perseguidos pela culpa, vergonha e humilhação, eles se esforçam (alguns sem sucesso, outros com sucesso, e ainda outros para nada) para alcançar o perdão, a salvação e um lugar para chamar de seu.
Na trama, Lena Grove, uma gestante adolescente, segue rumo ao Mississippi em busca do pai de seu filho. Ela pega carona até a pequena cidade de Jefferson, lugar onde se localiza uma serralheria. Um dos trabalhadores da fábrica, Joe Christmas, é um homem taciturno, racialmente ambíguo, e que aparece de repente na fábrica um dia em busca de trabalho. Após ganhar o emprego, logo ele se junta a outro empregado da fábrica, Joe Brown. Os dois formam uma parceria, fabricando e vendendo bebidas alcoólicas ilegalmente, e acabam, com o tempo, deixando o emprego na fábrica. Outro dos trabalhadores, Byron Bunch, fica intrigado e inquieto quando Lena Grove repentinamente aparece na fábrica um dia. Ele conta ao antigo e desonrado reverendo da cidade, Gail Hightower, dos seus esforços para cuidar da menina. Logo, Lena percebe que o homem que ela procura, o pai de seu filho (Lucas Burch), é, na verdade Joe Brown. À época da chegada de Lena à cidade, Brown é detido na cadeia após o assassinato de uma mulher local, Joanna Burden, e o incêndio de sua casa. Joe Christmas, o amante ocasional da senhora Burden, é o principal suspeito.
A narrativa, então, toma vários caminhos, explorando o passado de vários dos personagens. Como um jovem reverendo, Gail Hightower, assegura uma igreja em Jefferson para alimentar sua obsessão por seu avô, um confederado da cavalaria que foi morto na cidade durante a Guerra Civil. A jovem esposa de Hightower é infiel e apresenta problemas mentais. Ele acaba falecendo em uma queda da janela de um hotel de Memphis, onde se encontrava com outro homem. Um escândalo se instala, e os paroquianos o associam ao reverendo, que é forçado a demitir-se do cargo.
Enquanto criança, Joe Christmas é deixado na escada de um orfanato. Quando uma nutricionista do lugar acredita, erroneamente, que Joe a ouviu realizando atividade sexual com um jovem médico no quarto dela, ela teme perder o emprego. Para eliminar este risco, ela ameaça expôr a origem birracial de Joe e, assim, que seja transferido para um orfanato só para crianças negras. Ela discute o plano com o zelador do orfanato, que sequestra Joe e o leva para Little Rock, onde ele é encontrado e devolvido, conseguindo ser adotado duas semanas depois por um severo homem religioso, o senhor McEachern, e por sua esposa. O novo pai adotivo de Joe o submete a espancamentos regulares. Na medida em que Joe cresce e entra na puberdade, ele acaba cruzando o caminho de Bobbie, uma prostitua que trabalha como garçonete numa cidade próxima. Quando o senhor McEachern encontra seu filho dançando com Bobbie, uma luta se inicia, e Joe acaba matando seu pai adotivo golpeado sua cabeça com uma cadeira. Abandonado por Bobbie e pelos próximos a ela, Joe abraça uma vida de fuga e segue vagando por mais de quinze anos, acabando, por fim, se instalando em Jefferson. Nesta cidade, Joe fica numa cabana na propriedade de Joanna Burden, e os dois, rapidamente, tornam-se amantes. A relação deles é marcada por paixão, violência e longos períodos em que ambos se ignoram. A senhora Burden quer um filho e deseja engravidar, mas Joe é fortemente contra esta ideia. Depois de um tempo, Joe Brown vem viver com Joe Christmas na cabana. A senhora Burden tenta ajudar Joe Christmas financeiramente, mas sua intromissão apenas provoca a ira neste. Uma noite, ele selvagemente a ataca e a mata com uma lâmina depois de ela tentar atirar com uma pistola contra ele numa aparente tentativa de assassinato seguido de suicídio. O sobrinho da senhora Burden, em New Hampshire, oferece uma recompensa de mil dólares pela captura do assassino de sua tia. Grupos de busca saem à caça de Joe Christmas, que evita a captura por dias, fugindo ao ponto de passar fome e atingir a exaustão. Lena, nesse ínterim, muda-se para o interior da cabana em que os dois Joes vivem na tentativa de se preparar para o nascimento do seu filho; Byron Bunch fica numa tenda por perto.
Joe Christmas é apreendido nas ruas da vizinha Mottstown. Seu avô materno biológico, o tio Doc Hines, passa pela multidão e amaldiçoa Joe, pedindo pela sua morte. Quando os oficiais de Jefferson chegam para pegar o prisioneiro, a senhora Hines também atravessa a multidão esperando ver o rosto do neto que o marido disse ter morrido enquanto criança. Os Hines, então, tomam o trem para Jefferson juntos. Byron e os Hines chegam à casa de Hightower e é revelado que o pai de Joe Christmas era um trabalhador de circo que tentou fugir com a filha dos Hines antes de o tio Doc atirar e matá-lo. O tio Doc acabou colocando o bebê no orfanato em Memphis onde ele trabalhou como um zelador. Byron quer que Hightower minta e afirme que Joe Christmas esteve com ele, em sua casa, na noite em que Joanna Burden foi assassinada. Hightower fica com raiva e pede que todos saiam. Lena entra em trabalho de parto, mas no momento em que Byron chega com o médico, Hightower já fez o parto. Assistindo ao parto está a senhora Hines, que erroneamente acredita que Lena é a sua filha morta há tempos, Milly, e que o recém-nascido é seu neto, Joe Christmas. Byron faz com que Joe Brown esteja na cabana com Lena; ao chegar lá, ele fica chocado ao ver Lena segurando o seu filho recém-nascido, pula uma janela dos fundos e foge. Byron vê Brown fugir e tenta impedi-lo, mas este, sendo bem mais forte que aquele, o espanca e foge num trem. Joe Christmas, neste ínterim, escapa de seus captores enquanto está sendo levado através da praça da cidade. Em pouco tempo, ele é perseguido, baleado e castrado na cozinha de Hightower por um caçador de recompensas: Percy Grimm. Depois, o envelhecido Hightower reflete em seu passado e se prepara para a própria morte. Depois de uma viagem pela estrada, um trabalhador local perto de Jefferson conta à sua esposa como ele deu carona a um curioso casal - uma mulher com um recém-nascido acompanhado por um homem que não era o pai da criança. O casal, Lena e Byron, não se entusiasmavam enquanto buscavam o pai biológico do bebê, e o trabalhador os levava ao longo do Tennessee.
Como disse uma vez Faulkner em uma entrevista, o que mais o fazia se lembrar das obras dos grandes autores eram os personagens, e não os títulos ou tramas; assim, algo que sempre merece bastante discussão e análise são os personagens principais em suas obras. O protagonista de Luz em Agosto, Joe Christmas, é, também, um dos mais enigmáticos em todos os romances do autor. Um homem irritado, ele é uma sombra que caminha à margem de dois mundos, não pisando suavemente e nem confortavelmente o mundo dos negros e nem dos brancos. Em sua primeira aparição, ele provoca a curiosidade de parte dos trabalhadores da fábrica, acompanhada do desprezo pela sua indiferença presunçosa. Embora Faulkner apresente muitos detalhes da vida e do caráter de Joe ao longo do romance, este permanece distante, fechado e indescritível. Na fábrica, ele é uma espécie de lousa em branco, em que os outros trabalhadores projetam seus preconceitos tentando definir quem verdadeiramente seria o homem misterioso; muitos acreditam que ele vem de uma país distante e desconhecido. Várias correlações soltas conectam a vida de Joe Christmas à de Jesus Cristo. Os dois compartilham as mesmas iniciais; Joe foi deixado nos degraus do orfanato no natal e foi assassinado quando tinha trinta e poucos anos. Estas sugestões de similaridade, entretanto, são soltas, permitindo a Faulkner complicar e escurecer a natureza moral do protagonista. A caracterização que o autor dá à Joe desafia e definitivamente subverte qualquer comparação cristã. Qualquer tentativa de visualizar Joe como um mártir é complicada por sua vida de violência e seu desprezo geral pela humanidade. Ele surge como um anti-herói moderno classicamente falho e conflituoso. Um indivíduo sem identidade, sem ter consciência do seu nome de nascimento, muito menos de sua herança racial, ele vaga numa busca fútil por lugares aos quais possa pertencer. Enquanto a vida de Cristo inspira louvor, a de Joe gera pouca simpatia por parte daqueles ao seu redor. As condições sombrias que envolvem sua formação explicam pouco sua necessidade compulsiva de infligir dano a outros (em dois casos, a ponto de causar a morte). A tentativa de Joe de recuperar e estabelecer sua identidade no mundo é marcada por um desdém pelas pessoas que poderiam possivelmente provê-lo o conforto que procura.
Superficialmente, à luz das referências suaves às imagens bíblicas que Faulkner utiliza no romance, Lena Grove sugere Maria se dirigindo a Belém - mas Maria como uma adolescente perdida e com 'olhos arregalados'. Em vez de um estábulo, ela dá à luz um filho numa cabana rústica, eventualmente seguindo junto com o seu José substituto, Byron Bunch. Mas, é aí que a comparação termina: mais do que tudo, Lena pode ser vista como uma simples personificação da força vital do romance. Enquanto Joe traz violência e morte a Jefferson, Lena traz o seu filho em gestação e uma forte determinação em encontrar o pai de seu filho. Ela substitui Joe e suplanta a sua presença no romance, dando à luz seu filho num berço dentro de um abrigo simples que antes havia sido o lar dos dois Joes criminosos. Enquanto Joe Christmas é a figura trágica clássica de Faulkner, condenada a lutar e falhar, Lena Grove representa um outro tipo do autor, frequentemente reservado a figuras femininas em seus mundos fictícios. Ela é 'o andarilho', a jovem inocente, que crê na sua determinação para legitimar seu bebê. Lena é uma sobrevivente, ainda que ela não lute contra os desafios e privações que ela enfrenta. Ao mesmo tempo, ela não permite que a sua pobreza, inocência e falta de instrução conspirem contra ela. Ela aceita o sofrimento com pouca resistência, enfrentando-o de frente, suportando-o e, depois, seguindo em frente. Suas andanças enquadram a narrativa: no começo, ela entra em Jefferson sozinha; a seguir, em sua breve e simbólica escalada, o nascimento de seu filho oferece um breve vislumbre de esperança para uma cidade marcada por assassinatos e discórdia racial. Lena então ganha a estrada de novo, acompanhada por seu filho e um protetor e admirador mais velho, abraçando a liberdade que uma vez marcou os anos de andanças de Joe Christmas.
Outro personagem importante no romance é o Reverendo Gail Hightower. Muito de sua caracterização envolve sua peculiar e obsessiva fixação na unidade de cavalaria Confederada de seu avô. Embora a poeira e os trovões que a unidade despendeu tenham passado há muito tempo, o barulho dos cascos dos cavalos e o clamor ainda ecoam na memória de Hightower. Eles servem como um poderoso lembrete das relações difíceis que os humanos têm com o passado - sua carga e onipresença. Através de Hightower, o passado se torna uma entidade viva e que nunca é esquecida ou deixada para trás. Suas lições duras também nem sempre são aprendidas, como a violência e a divisão racial que assola Jefferson e seus arredores quase tão profundamente como na época da Guerra Civil. A vida de Hightower se torna um lembrete desagradável de que, para muitos, não há recomeço, não há esperança para uma nova direção ou mudança. O comportamento errático de sua esposa, com o consequente suicídio, dispara um processo de declínio gradual, enquanto Hightower carrega a culpa e o estigma do escândalo. Ele se pune, e a comunidade em sua maioria também o pune, por se recusar a admitir a derrota completa em deixar a cidade após ter sido afastado de suas atividades. À luz do revés pessoal e da decepção inesperada, a sua vida representa um testamento da reafirmação da dignidade e orgulho humanos. O orgulho assume um duplo significado nas reflexões de Hightower; ele tenta recuperar o orgulho de si mesmo, seu auto-respeito e autoestima, enquanto resistindo à vaidade, uma resistência orgulhosa contra as fofocas e rumores que correm pela comunidade. Em suas reflexões e ruminações, ele surge como um centro moral e filosófico do romance. Em meio às tragédias e circunstâncias que marcaram sua vida, ele é capaz de salvar a maior força: o autoconhecimento e a sabedoria. Ao longo do curso de sua vida, ele também é capaz de confrontar e fazer descansar os fantasmas da família e o legado de seu passado doloroso, que ainda o assola.
O último personagem que merece menção é Byron Bunch. Inerte, desgastado por anos de maçante rotina e por trabalhar seis dias por semana, ele vive em um mundo ilhado projetado no sentido de evitar qualquer emaranhamento pessoal, emocional ou de outra natureza. Quando Lena chega à fábrica em Jefferson, sua situação desencadeia uma espécie de instinto em Byron para alcançar e, finalmente, se envolver com outra pessoa. Não há dúvida de que Byron é um homem bom: ele vive honestamente, de forma íntegra e dirige um coral numa igreja rural aos domingos, retornando ao início de suas atividades de trabalho na manhã do dia seguinte. Mas sua boa vida, regrada, é conseguida através de uma vida sob regime de liberdade de qualquer tentação ou desafio. Ele viveu moralmente evitando qualquer engajamento com o mundo ao seu redor. Seu envolvimento crescente com Lena tem paralelo com um despertar gradual nele enquanto ele tenta se transformar a partir do homem que ele era - o homem que protegeu a si mesmo tão rigorosamente de experimentar a dor, o sofrimento ou o conflito. A amizade de Byron com Hightower não apenas provê uma fonte de inspiração e desafio muito necessários como também adiciona uma nova camada de complexidade moral e filosófica em sua vida. Byron procura o seu amigo para aconselhamento e sabedoria e, por sua vez, acaba revelando seus desejos e intenções através de seus diálogos com o ministro destituído. Hightower lança dúvida na pureza dos sentimentos de Byron em se lançar desinteressadamente para ajudar Lena e questiona sua suposta falta de motivo em melhorar a sua situação posteriormente. Byron é forçado a resolver seus sentimentos por Lena, confrontando tanto a opinião pública como seu próprio egoísmo, concluindo, no final, que ele é um homem honrado que escolheu viver de modo mais engajado e presente. O desejo de Byron de enfrentar Joe Brown, de apanhar de um homem mais forte, é uma espécie de despertar visceral de que ele necessita. Isto revela, em última análise, sua constatação em se envolver na vida de outra pessoa e seu desejo de arriscar sofrer danos pessoais. Byron está determinado a permanecer ao lado de Lena e lida com as emoções conflituosas e vulnerabilidades que experimenta ao amar outra pessoa. No fim, ele pode ainda ter muito a aprender quando se trata de cortejar e cuidar de Lena, mas ele conseguiu encontrar, finalmente, uma liberdade e um propósito para a sua vida, até então ignorada e evitada.
Tratando dos temas do romance, tecerei comentários sobre alguns deles. O primeiro que merece destaque é a questão do peso do passado. A história, no sentido amplo do termo e também no sentido da história pessoal, toma grandes proporções em Luz em Agosto. A senhora Burden e o reverendo Hightower herdam um legado complexo de orgulho familiar, conflito e vergonha. A senhora Burden vive sua vida como um sacrifício pessoal a uma causa, sentindo uma obrigação de honrar o compromisso de sua família com a abolição e com a igualdade com os negros. É irônico que sua caridade em si cause sua ruína, já que o homem que ela tenta ajudar, Joe Christmas, brutalmente a assassina quando ele se ressente e se sente ameaçado pelo impulso paternalista dela em controlá-lo e melhorá-lo. O reverendo, enquanto isto, está preso no passado, dividido entre a imagem romântica de seu avô, o heroico cavaleiro morto enquanto roubava galinhas, e de seu pai pacifista. Sua relação não resolvida com sua história pessoal compromete sua efetividade como líder espiritual e como marido, e desempenha um papel na sua excomunhão. Joe Christmas está no lado contrário: ele é um homem sem história, além da reserva pessoal de memórias que formam um padrão doloroso de violência, abuso e negligência, tanto autoinfligidos como chegam a ele por meio daqueles envolvidos em cuidar dele. O passado, do qual ele pessoalmente não tem consciência, prova ser uma força muito poderosa de se escapar ou resistir. A natureza misantropa e homicida dele é parcialmente explicada quando sua origem começa a se tornar clara. O avô que ele conhecia apenas como o zelador do orfanato prova ter muito em comum com o neto. Ambos são violentos e propensos a comportamento antissocial e de assassinato. Lena emerge como a única figura capaz de contornar o peso opressivo do passado. Ela é uma criança livre de estigma pessoal ou vergonha. Como Joe, ela é órfã, mas em vez de fugir do passado, ou ficar simbolicamente aprisionada por ele, no final, ela caminha de forma otimista para um futuro ainda sem roteiro.
Observa-se também, como tema, a luta por um sentido coerente de identidade. Embora o romance explore questões de gênero e raça especificamente, estas correntes temáticas se cruzam para se tornar parte de uma pesquisa mais extensa do autor acerca da natureza da identidade e de como ela é influenciada pela história, natureza, sociedade e vidas individuais. Os habitantes de Jefferson aceitaram tacitamente o reverendo, Joanna e Joe, mas cada um destes personagens deliberadamente resiste ou abandona a influência distorcida de uma ordem moral e social rígida. A sociedade, representada na voz coletiva da comunidade, tenta sobrepor noções restritivas e simplistas de identidade baseadas em categorias mais gerais, tais como raça e gênero. Enquanto alguns indivíduos necessitam desses estímulos externos para fornecer a si mesmos um senso de clareza, ordem e definição, outros lutam sob o peso do que são frequentes tentativas de restringir e classificar. Para Joe, a ausência de uma autoconsciência estável e identificável assume trágicas dimensões. Sua andanças se tornam uma jornada simbólica da tentativa de auto-descoberta, uma busca por completude, mas elas acabam se tornando tragicamente jornadas ilusórias e elusivas.
Outro tema é o do isolamento do indivíduo; o romance é preenchido com figuras solitárias que escolhem ou são forçadas a habitar as margens da sociedade. Byron se protege do mundo exterior com sua estratégia inconsciente de desapego. Lena é uma adolescente prestes a ser mãe que, buscando o apoio de Joe Brown, descobre que ela pode ficar sozinha e que, na verdade, seria o melhor. Ela é o catalisador que facilita a entrada gradual e final de Byron no mundo das interações humanas e contato. Embora sua família não tradicional ainda esteja se formando ao final do romance, eles são os únicos personagens capazes de resolver o enigma de sua própria estranheza e solidão. Hightower e Joe Christmas são descritos como vivendo fora do tempo, habitando a própria ordem temporal e um mundo deles mesmos. Após a traição que Joe experimenta por parte de Bobbie Allen, reativando o abandono e a negligência que marcou a infância dele, Christmas passa a viver uma existência sem rumo e sem restrições, deliberadamente sabotando qualquer oportunidade de estabelecer um laço emocional ou conexão com outra pessoa. Sua única chance potencial de contato humano, com a senhora Burden, termina não com grande intimidade e conexão, mas em assassinato e ira.
Entre os motivos, alguns merecem destaque. O primeiro, o uso de palavras compostas, é algo emblemático para o autor, que demonstra sua habilidade em ultrapassar os limites da articulação sob o propósito de atender às suas necessidades estéticas. O uso deste mecanismo sugere que a reserva de palavras existentes em língua inglesa, além dos meios tradicionais de combinação, composição e emprego, são insuficientes para explorar o complexo estado de consciência e conhecimento dos personagens. Exemplos abundam no romance. Faulkner emprega estes neologismos longos, palavras de sua própria invenção, como um meio de acessar ou enaltecer os estados indescritíveis, complexos e contraditórios que não são fáceis de se explicar ou mesmo serem traduzidos no reino das palavras escritas. As combinações tentam aproximar o grande abismo entre a aparência e a realidade, pensamento consciente e inconsciente, os estados externo e interno do ser. Outro motivo é a fluidez do tempo. No romance, há uma mistura complexa de eventos contados em uma dinâmica de flashbacks e narração em tempo presente. A natureza cíclica das andanças de Lena, primeiro para dentro e depois para fora da cidade, serve como escopo para a ampla rede narrativa contida na obra. Ao longo da narrativa, Faulkner move sua história para a frente e para trás no tempo. Vários eventos se sobrepõem e se cruzam; ações tomam lugar simultaneamente em diferentes partes de Jefferson e são, então, relatadas ou contadas por um coro de vozes que competem entre si, cada uma sob a sua própria óptica. Por exemplo: o assassinato de Joanna Burden já aconteceu quando Lena chega à fábrica no primeiro capítulo, mas não somos apresentados aos motivos e detalhes deste evento até o fim do capítulo 12. Esta estrutura e abordagem ressaltam a noção de Faulkner de que nada acontece isoladamente. Em vez disto, os diversos eventos que compõem o romance, se passados ou presentes, são parte de uma cadeia de longo alcance de causalidade que remontam à Guerra Civil e vai além. Justapondo vários períodos de tempo e pontos de vista, o autor adquire uma complexidade e ressonância em sintonia com o mundo multidimensional que ele cria.
Um último e interessante motivo é o dos nomes. Faulkner seleciona deliberadamente os nomes dos personagens de modo a dar sutil ressonância ao rico retrato das vidas cruzadas que eles representam. O reverendo isolado da sociedade e auto-exilado tem isto assinalado em seu nome - Hightower ('torre alta'). A família da senhora Burden sofreu tragédias pessoais e dificuldades em estabelecer sua presença em Jefferson (Burden significa fardo). Lena Grove é uma criança da natureza, estando mais em casa entre as árvores e espaços amplos do que nos confinamentos da civilização tradicional (Grove significa bosque). Para Joe Christmas, um nome, e a história e senso pessoais que ele carrega, é um luxo que a ele nunca foi concedido. Sua ausência de nome ao nascimento, e a ausência de identidade que isto implica, pode ser visto como a tragédia primordial de sua vida e a força motriz que sua busca constante e incansável representa. Ao final do romance, o filho que nasce de Lena permanece sem nome, livre das expectativas que o ato de nomear pode gerar.
Quanto aos símbolos, podemos discutir sobre alguns deles. O primeiro seria o da ovelha morta; num romance recheado de imaginário religioso, Joe Christmas ter matado uma ovelha é uma breve mas evidente adição ao conjunto de símbolos cristãos. Como muitos adolescentes, Christmas vivencia o início de seus impulsos sexuais e a curiosidade e a busca por conhecimento aumentam incessantemente. Quando ele primeiro entra em contato com o ciclo menstrual de uma mulher, ele tem nojo e repulsa pelo conhecimento. A única catarse que ele encontra é no sangue das ovelhas que ele mata de um fazendeiro no campo. O ato irracional e impulsivo, e quase ritualístico, antecipa as duas mortes adicionais que o virão assolar e, finalmente, selar o seu destino. Além disto, a ovelha pode ser vista como um análogo ao próprio Christmas: uma ovelha que será sacrificada ao se dirigir voluntariamente para os caminhos que o levarão à morte e destruição. A morte brutal da ovelha também antecipa o tiroteio e castração que esperam Joe na cozinha do reverendo Hightower.
Outro símbolo é o da fumaça subindo da casa da senhora Burden. O dia fatídico em que Lena chega a Jefferson é marcado também pela morte da senhora Burden e pelo incêndio à sua casa. Até aquele ponto, Byron Bunch tinha seguido de forma simples e ritualizada sua existência descomplicada. Ao encontrar Lena na fábrica, entretanto, ele fica tão distraído e perturbado pela sua presença que nunca percebe conscientemente a fumaça subindo no horizonte, disposta de forma clara como se 'tivesse sido colocada lá para avisá-lo'. Mais tarde, o narrador onisciente constata que, quando Byron percebe que Lucas Burch e Joe Brown são a mesma pessoa, parecia a ele que o destino e as circunstâncias tinham colocado um aviso em direção ao céu (a fumaça), mas ele foi 'muito tolo' para conseguir compreendê-lo. Mas a impressão de Byron de que a fumaça representaria um mau presságio é outro exemplo de má interpretação do romance. A fumaça serve não como um prenúncio de maus tempos que se aproximam, mas como o fim e a passagem de uma ordem vigente. O fogo na casa de Burden serve como uma limpeza ritualística, libertando Jefferson da tragédia e da violência que a marcaram naquele agosto e pavimentando o caminho para a presença de Lena, enquanto gestante, e para o novo senso de comprometimento e obrigação que se desenvolve em Byron.
Um último símbolo é o da estrada. A noção genérica da estrada emerge como uma poderosa metáfora da busca por auto-aceitação e encaixe que Lena e Joe empreendem no romance. A imagem primeiramente aparece quando Christmas mata seu pai adotivo e é abandonado por Bobbie Allen e seus companheiros. Pisando fora da varanda da casa abandonada, Joe entrou na estrada pela qual correria e fugiria por quinze anos. Nas andanças infrutíferas que se iniciam, a estrada tipifica a busca incansável e autodestrutiva de Joe por um significado. A estrada também toma dimensões de uma libertação tentadora da sua consciência aprisionadora. Mas acaba funcionando como uma miragem e um engodo que não fornecem resolução e nem as respostas que Joe procura. A estrada de Lena leva a novas esperanças e possibilidades, enquanto a de Joe o afoga em mais sofrimento, amargura e, finalmente, morte.
Percebendo a complexidade que é esta obra deste grande gigante da Literatura Universal, sigo numa jornada de descoberta e enriquecimento pessoal. É muito gratificante para a alma encontrar autores que escrevem com o coração e de forma tão magistral, e de saber que sua obra é reconhecida mundialmente em virtude de importantes ensinamentos e constatações para o ser humano. Procurando conhecer mais sobre os motivos humanos e sobre o sentido de tudo, seguirei na obra deste importante autor; ajuda, por fim, a viver melhor. Sem dúvida que sim! Boa semana a todos!
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