sábado, 29 de setembro de 2012

Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band


   'Paul is dead' (Paul está morto)! Este foi um dos maiores boatos da história do Rock! Na capa altamente trabalhada de um dos maiores discos de todos os tempos, várias mensagens são apresentadas de tal modo que tornavam esta afirmação muito possível. Paul realmente sofreu um acidente de moto sem maiores repercussões em 1966; a partir daí, surge um boato de que ele teria morrido às 5 horas da manhã de 9 de novembro de 1966, uma quarta-feira, num acidente de carro em um cruzamento, tendo sofrido morte instantânea no local. Dizem que o fato foi abafado pela imprensa local e nunca se encontrou um laudo pericial referente à autópsia realizada no corpo. Os outros integrantes da banda teriam selecionado um sósia, de origem anglo-escocesa, de nome William Campbell (o Billy Shears), e a partir de então, ele teria se passado por Paul McCartney. Entre novembro e dezembro de 1966, foi gravada a tão famosa canção Strawberry Field Forever (que, juntamente com Penny Lane e Only a Northern Song, deveria fazer parte do álbum Sgt. Pepper's); no final desta canção, que foi lançada em 13 de fevereiro de 1967 nos EUA e em 17 de fevereiro de 1967 no Reino Unido, quando há uma parte instrumental com batidas em meio a sons de instrumentos de sopro e uma guitarra distorcida, há uma frase falada por John Lennon, em que se ouve 'I buried Paul' (Eu enterrei Paul)... Isto ajudou a propagar o boato (mais tarde, John afirmaria que na verdade ele falou 'Cranberry Sauce', ou seja, molho de Cranberry)

Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (capa)
   As maiores pistas que alimentariam este boato, na realidade, viriam com a capa de Sgt. Pepper's. Capas de álbuns anteriores e posteriores a este disco dão pistas da suposta morte de Paul, mas somente neste é que se observam as mais consistentes e interessantes (exceto pela capa tão famosa de Abbey Road, que também é muito interessante). A capa do Sgt. Pepper's seria, na verdade, uma sepultura; observe o arranjo em flores na parte inferior; o arranjo com flores em amarelo desenham o baixo Hofner típico do Paul, e disposto como se pertencesse a um canhoto, o que era o caso; no baixo, observam-se somente três cordas, e não quatro, o que representaria a falta de um dos 4 Beatles; o arranjo com flores em vermelho tem uma espécie de 'o' no final do nome 'Beatles', o que formaria a frase 'Be At Leso', ou seja, 'Fique em Leso', sendo que 'Leso' é o nome de uma ilha que fica perto da Indonésia, onde Paul teria sido enterrado (já vi traduções também em que 'Be At Leso' seria 'Descanse em Paz'); sobre a cabeça do Paul, há uma mão aberta (uma forma de abençoar os mortos), o que aconteceu anteriormente na capa de Revolver e que aconteceria posteriormente na capa do álbum das músicas do filme Yellow Submarine; na parte esquerda da capa, observa-se uma boneca segurando um carro, que seria do mesmo modelo do que Paul sofrera o acidente, e com o interior vermelho, o que representaria o sangue do desastre; embaixo do 'T' de 'Beatles' há uma pequena estatueta de Shiva, que seria um deus hindu da morte, e esta aponta para Paul; na bateria da capa, se for colocado um espelho cortando horizontalmente a frase 'Lonely Hearts', e for observada a combinação da parte de cima do espelho e do reflexo, formam-se duas expressões possíveis: 'one he die' (que se referiria à morte de um dos Beatles) ou ainda 'I One IX He ^ Die' (aqui, teríamos a data da suposta morte de Paul, ou seja, 'I One' seria 'onze', referindo-se a novembro, 'IX' é 'nove', referindo-se ao dia da morte, o acento circunflexo seria uma seta, que aponta exatamente para Paul, que seria aquele que estaria morto); na contra-capa do álbum, dois detalhes são muito interessantes: primeiro, todos os Beatles olham para a câmera, exceto Paul, que está de costas (teria morrido), e, no LP original, em que todas as letras estão impressas na contra-capa, o dedo da mão de George Harrison está apontando exatamente para a parte '5 o'clock in the morning', em She's leaving home, que teria sido a hora da morte de Paul; as letras de várias músicas do álbum fazem possíveis alusões à morte de Paul (em Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, há o verso 'so let me introduce to you the one and only Billy Shears', ou seja, 'Deixem-me apresentar o primeiro e único Billy Shears'; em Good Morning, Good Morning, há os versos 'nothing to do to save his life', ou 'nada pode ser feito para salvar sua vida', e ainda 'People running around it's 5 o'clock', ou 'Pessoas andando em volta às 5 da manhã', que teria sido a hora da morte de Paul; em A Day in the life, há os versos 'He blew his mind out in a car, he didn't notice that the lights had changed', ou 'ele estourou sua cabeça em um carro, ele não percebeu que as luzes - do semáforo? - tinham mudado'); ainda, dentro do encarte do álbum, há uma foto da banda em que se percebe uma insígnia no braço esquerdo do uniforme de Paul em que está escrito OPD, que no Canadá quer dizer Officially Pronounced Dead, ou seja, Oficialmente Considerado Morto.

Contra-capa do álbum (detalhe para o indicador direito de George)

Imagem do encarte do álbum (detalhe para o 'OPD' na manga esquerda do uniforme de Paul)

Imagem espelhada do nome 'Lonely Hearts' da bateria
   Bom, tudo isso é muito interessante, e, ao que consta, não aconteceu de fato; o que aconteceu de fato, e não é de forma alguma boato, é que este é um álbum eterno, muito bem trabalhado, que levaria a banda por caminhos mais complexos e uma imersão profunda no trabalho em estúdio. Este álbum mudou a história do Rock.
   É interessante como, andando pelas ruas de uma cidade, você vai se deparando com certos lugares, certos estabelecimentos, que possuem uma história da qual nada sabemos e, muitas vezes, na correria do dia-a-dia, nem nos interessamos em saber. Em uma rua aqui perto de onde moro atualmente, todos os dias ao ir para o trabalho, passo por um restaurante colorido, com tons em amarelo e lilás, que se chama Salt n' Pepper. Não tenho dúvida de que deve ser em homenagem a alguma coisa (um filme, uma música, uma história, um outro lugar, etc.); o fato é que, ao observar bem todos os dias esse restaurante, inclusive até já o tendo visitado, e com o seu estilo e suas cores, me veio à cabeça uma história que tem tudo a ver com o tema desta postagem. Os Beatles estavam um pouco desapontados com o fato de não conseguirem tocar suas músicas cada vez mais complexas nos shows ao vivo; assistindo ao Anthology, percebe-se o quanto foi desgastante tentar tocar Paperback Writer ao vivo (as vozes, a batida, a guitarra, tudo o que estava na versão em estúdio não atingia a mesma complexidade nas versões ao vivo). A partir de então, e cansados de serem reconhecidos como um grupo de jovens com músicas dançantes, e de tocarem para plateias que não se preocupavam com a música tocada, mas que só faziam gritar e se estasiar, os Beatles resolveram passar a se dedicar mais a músicas de estúdio, a trabalharem nas suas músicas cada vez mais complexas e em transmitir a maturidade que não se conseguia diante do público em virtude da limitação da forma como se podiam tocar músicas ao vivo na época. Voltando de um vôo da América do Norte, Paul e os demais integrantes da banda se encontravam com o empresário Mal Evans; num determinado momento do almoço, o empresário pergunta a Paul se este sabe o que significam as letras 'SP' escritas num frasco sobre a mesa, ao que Paul responde: - Of course I do; it's 'salt and pepper' (isto me vem à cabeça sempre que passo diante do referido restaurante)... Naquele momento, e do modo como saiu o som dessas palavras, Paul, que vinha pensando na ideia do próximo trabalho, teve o insight para a música tema do álbum; naquele momento, começava a desenvolver uma ideia em que cada integrante da banda deveria criar um personagem, uma espécie de alter ego, e assim fingir, durante as músicas do álbum, serem integrantes de uma outra banda... Tendo cunhado o termo Sgt. Pepper e meio que parodiando os nomes muito extensos de bandas que vinham surgindo naquela época na América, criou uma espécie de banda fictícia chamada Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Surgia uma espécie de álbum conceitual, embora isto não tenha sido o que de fato se observa nas músicas do trabalho em conjunto, mas a ideia estava lá no início da criação deste.
   Após 129 dias (e aproximadamente 700 horas) de trabalho, o oitavo álbum oficial da banda é lançado no dia 1 de junho de 1967 (só a título de comparação, o primeiro álbum dos Beatles, que foi o Please Please Me, levou em torno de 10 horas para ser gravado); o mundo do Rock nunca mais seria o mesmo. Está entre os melhores álbuns de todos os tempos em qualquer classificação ou revista que se procure por aí; foi o primeiro álbum de Rock a ganhar um Grammy de 'álbum do ano' em 1968 (foi nomeado para 7 prêmios Grammy e ganhou 4 deles). Com a ideia de personagens, ou alter egos, a capa é primorosa no que apresenta vários ícones nas mais diversas áreas, como escritores, músicos, estrelas do cinema e mesmo gurus indianos (a pedido do George, que se aprofundava na música e cultura indianas pouco antes deste álbum). Lá estão Marilyn Monroe, Bob Dylan, Jung, James Dean, Freud, Aldous Huxley, Edgar Allan Poe, Karl Marx, Oscar Wilde, HG Wells, Marlon Brando, Stuart Sutcliffe (o primeiro baixista dos Beatles, cuja vida é retratada no filme 'Os Cinco de Liverpool'), entre outros. John queria que estivessem ainda Adolf Hitler, Jesus Cristo e Gandhi, mas estes não foram incluídos por não terem sido aprovados pelos outros integrantes, empresários e diretores do grupo. Vestidos em uniformes militares, na sequência dos álbuns, o grupo apareceria com bigode pela primeira vez, o que demonstra talvez a vontade da banda em serem vistos como músicos mais maduros, e não mais os garotos do Yeah Yeah Yeah. Com este álbum, a banda passou a se dedicar seriamente ao trabalho em estúdio e foi abandonando as turnês cansativas.
   A primeira música do álbum, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, que é o próprio título do mesmo, foi escrita e é cantada por Paul. No começo percebe-se um barulho de pessoas conversando e prenúncios de uma banda que irá se apresentar num palco (obviamente, este barulho foi retirado de shows anteriores da banda, já que esta havia parado de sair em turnê). Esta música tem a ideia de apresentação da banda e do seu líder, Billy Shears. Foi gravada juntamente com a segunda música, With a Little Help From My Friends. Quando se ouve esta primeira canção do álbum, percebe-se um Paul empolgado, gritando muito e mostrando porque é o Beatle mais completo, atingindo agudos rasgados muito difíceis de se atingir. A base da guitarra e a batida, bem como os vocais no refrão, são muito bem trabalhados. Esta música tem a intenção de introduzir as outras canções do álbum no momento em que se prontifica a apresentar a banda fictícia. Foi tocada por George, Paul e Ringo em 19 de maio de 1979 no casamento de Eric Clapton com a ex-mulher de seu melhor amigo (o George), Pattie Boyd. No final, o coro anuncia, atingindo um clímax, a próxima música do trabalho. Deixo uma versão fantástica do Paul cantando com o Bono Vox, do U2, em 2005 no Live 8.


   A primeira vez que ouvi a segunda música, With a Little Help From My Friends, foi na abertura do seriado Anos Incríveis. Meu pai guardava uns CDs do Joe Cocker e a primeira música dele que ouvi foi uma versão magnífica, muito premiada e mais lenta, e bem mais longa, da música dos Beatles. Na versão do álbum, é cantada por Ringo, que é o Billy Shears anunciado. Esta canção foi uma das últimas em que Paul e John se sentaram e escreveram juntos. Muitos acham que esta música é sobre drogas, embora tenha sido sempre desmentido por John em suas entrevistas, afirmando se tratar da amizade acima de todas as outras coisas na vida... A ideia de álbum conceitual parece acabar com esta música e somente ser retomada na reprise da primeira música ao final do álbum. Uma nota interessante é que, como já divulgado em entrevistas, os primeiros versos deveriam ser: 'What would you do if I sang out of tune? Would you stand up and throw tomatoes at me?', mas Ringo disse que não cantaria isto pensando na possibilidade de ser atacado por tomates se algum dia viessem a cantá-la ao vivo. Obviamente, o segundo verso foi modificado para 'Would you stand up and walk out on me'. Seguem as versões original do álbum e a grande versão do Joe Cocker, que esteve no topo das paradas britânicas em 1968 (a versão do vídeo é uma eterna e belíssima apresentação no Festival de Woodstock de 1969).




   A canção seguinte é muito importante para todos os amantes dos Beatles. Lucy in The Sky With Diamonds é uma música do John e cantada por este na maior parte. Apesar de Paul ter dito em algumas entrevistas que obviamente foi inspirada no uso do LSD (LSD --> Lucy in the Sky with Diamonds), John  insistia em que foi inspirada num desenho de seu filho Julian; a Lucy que deu origem ao título da música foi Lucy O'Donnell (posteriormente Lucy Vodden), que foi colega de classe do filho de John. Numa entrevista de 1975, este disse que Julian veio um dia com um desenho sobre uma colega sua de turma chamada Lucy; no céu havia algumas estrelas e Julian chamou o desenho de Lucy In The Sky With Diamonds. As imagens que John relata na música parecem ter vindo do universo de Alice no país das maravilhas. Na música, George toca um instrumento onírico chamado tambura, que é um instrumento indiano semelhante à cítara; ele vinha estudando com o músico indiano Ravi Shankar, que é o pai de Norah Jones. Posteriormente, John afirmou que 'the girl with kaleidoscope eyes' viria a ser Yoko. O refrão também é muito bem trabalhado nos vocais, e a música toda é um marco da psicodelia. Perfeita!


   A quarta música, Getting Better, é muito empolgante. Diz-se que Paul teve a ideia desta canção enquanto caminhava com sua cadela, Martha; enquanto o sol começava a aparecer, ele pensou que estava se tornando melhor. No fim, trata-se de uma música que inspira otimismo e tem participações do John na letra. O sotaque britânico é muito bonito, com o geTTing beTTer apresentando com muita evidência o som do T, o que dá um certo brilho à voz da música. George também toca a tambura nesta canção. A melodia e a letra deixam esta como uma das músicas mais marcantes e fortes do álbum, com uma vibração cativante em toda a sua execução, ainda que destacada no refrão. Deixa marca entre as outras músicas do disco. Deixo as versões original e uma versão ao vivo do Paul.




    Em Fixing a Hole, Paul descreve um momento em que consertava o teto de sua fazenda na Escócia; ele disse que a música é sobre o buraco na estrada onde a chuva entra, uma boa e velha analogia. Alguns biógrafos afirmam tratar-se de uso de heroína, como na expressão 'getting a fix', mas isto são rumores (afinal, nem todas as músicas da banda precisam ter um significado misterioso e mensagens subliminares para serem interessantes). George afirmou que ficou enjoado de tanto ouvir Paul gravando os vocais desta música, e teve pouca participação na produção desta. É uma música bem trabalhada, mas que não se destaca entre as outras do álbum, tendo uma evolução tranquila e sem reviravoltas muito inesperadas.


   A próxima canção foi baseada numa reportagem que Paul leu no Daily Mail de Londres sobre uma garota que fugiu de casa, Melanie Coe. She's Leaving Home é uma música em que há um belo arranjo de cordas, o trabalho de voz é suave e foi a primeira vez em que uma mulher participou da gravação de uma música da banda (Sheila Bromberg, que tocou harpa). A garota da música tinha 17 anos quando fugiu de casa sem olhar para trás; depois descobriu que estava grávida do namorado e os pais, inicialmente, acharam que ela havia sido sequestrada, pois não entendiam como ela podia ter fugido, já que tinha tudo (carro, dinheiro, roupas), mas, segundo a própria Melanie, não amor... Na verdade, ela se sentia só todo o tempo. Os pais a encontram após 3 semanas e ela tinha tirado a criança (abortamento). É uma música suave e triste, muito bem arranjada e tocante. Está entre as melhores do álbum. Segue um vídeo feito por um fã. (Só para lembrar, é na letra desta música, para o primeiro verso, que aponta o indicador do George na contra-capa do álbum).


   Being For The Benefit of Mr. Kite é mais uma contribuição do John. É baseada num poster de um circo vitoriano do século 19. Nele, havia o Mr. Kite da música e várias conexões que se encontram no poster, como se a música sempre estivesse lá (isso é uma das coisas que fascina nos artistas; muitos criam coisas como se tudo já estivesse lá e ninguém houvesse notado anteriormente). No filme Across the Universe, a parte em que esta canção é tocada também se passa dentro de um circo, mas com muita psicodelia. George e Ringo tocam gaita nesta composição. Ainda, no álbum, a música iria vir logo após a música de abertura, mas na ideia do álbum conceitual preferiu-se colocar With a Little Help From My Friends. Segue o poster que inspirou John e duas versões da música (interessante como você parece voltar para a época e a situação de estar naquele circo).





Poster do Mr. Kite

   A oitava música, Within You Without You é mais uma do George inspirada na sua descoberta do leste, de todo o misticismo indiano que tanto o envolvia e o engrandecia. Nesta canção, nenhum dos outros integrantes participou da gravação; não há guitarra ou baixo, apenas a cítara e alguma percussão. Músicos indianos participaram da gravação. As risadas ao final foi ideia do George para tranquilizar o formato mais solene da música e retornar ao espírito temático do álbum. A versão original composta por ele (inspirada numa outra composição de Ravi Shankar) tinha em torno de 30 minutos de duração, mas esta versão foi reduzida bastante para a que foi gravada. O álbum iria conter ainda outra música do George, Only a Northern Song, mas esta acabou ficando de fora pouco antes do fechamento da produção. Segue uma versão da música.


   A próxima música, When I'm Sixty-Four, foi a primeira gravada para o álbum. Foi composta, e é cantada, pelo Paul. Este tinha apenas 15 anos quando fez a letra desta canção, tendo colocado o título em homenagem ao aniversário de 64 anos de seu pai. A letra trata da fidelidade ao amor; de forma rasa,  o personagem pergunta a uma mulher se ela ainda estará com ele quando ele estiver com 64 anos. A introdução com os metais dá um aspecto bem suave para a música, até engraçado, mas a voz do Paul cantando recheia a música com maestria e deixa a composição bastante agradável. Bela canção. 


 
   Lovely Rita é uma música que Paul escreveu em homenagem a uma guarda de trânsito (que era comum nos EUA, mas não na Inglaterra) chamada Meta Davies que o aplicou uma multa ao sair de um dia de gravação no estúdio Abbey Road. Em vez de ficar chateado, ele a homenageou nesta canção, que trata de uma pessoa que se apaixona por uma guarda de trânsito chamada Rita. Brian Wilson, do Beach Boys, disse em entrevista uma vez que esta era sua música preferida das compostas por Paul. Bem agradável de se ouvir.


   A décima primeira música, Good Morning Good Morning é uma espécie de brincadeira do John. Foi inspirado no muito que assistia de programas de TV (a expressão que dá título à música foi vista por ele em propaganda de cereais matinais). Os sons dos animais foi acrescentado numa sequência de modo que os animais que vinham depois deveriam ser capazes de comer o anterior (uma exigência de John). E a galinha do final se conecta com a próxima música, o que foi uma inovação da época (as canções que se misturavam, que continuavam nas seguintes, sem pausa). 


   A reprise de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, com um ritmo mais acelerado, e cantada por todos, exceto por Ringo, retorna a ideia do álbum conceito, e tem a função de iniciar a última e mais importante música do álbum, por muitos considerada a melhor dos Beatles, A Day In The Life. Para mim é, sem dúvida, a melhor de todo o disco, mas obviamente sem tirar o brilho da maioria das canções deste belíssimo trabalho. Na última música, uma orquestra com 41 componentes participou das gravações. Os músicos eram avisados para ir ao estúdio vestidos formalmente, mas uma vez lá, recebiam roupas no mínimo estranhas (falsos narizes, chapéus de festa, luva de pata de gorila, etc.), e eles percebiam que não iria ser uma simples sessão de gravação. Paul conduzia a orquestra, que tocou na segunda sessão da gravação da faixa. A música surgiu de um fato que John leu no Daily Mail; o herdeiro da Guinness, Tara Browne, um socialite, bateu seu Lotus numa van estacionada e morreu em 18 de dezembro de 1966. Paul contribuiu na letra com o verso 'I love to turn you on', uma clara referência ao uso de drogas. Existem dois clímax de orquestra que dividem bem o ritmo da música; o acorde final, foi produzido pelos 4 Beatles e o produtor George Martin tocando em 3 pianos simultaneamente; este acorde dura 42 segundos. O glissando em ascensão da orquestra e o som com força de trovão são reminiscências da 'Entrada dos deuses em Valhalla', da ópera 'O Ouro do Reno', a primeira das quatro do ciclo de O Anel do Nibelungo, do grande Richard Wagner. Um fato interessante é que após o acorde final, há um silêncio aparente mas que, na verdade, contém um tom de alta frequência que pode ser ouvido por cachorros, inclusive que os deixa irritados. O que se apresenta depois desse aparente silêncio é Paul dizendo 'Never could see any other way' com as palavras embaralhadas (na época do vinil, soava como se algo tivesse ido errado nas gravações). Um último fato é que esta é uma das pouquíssimas músicas do grupo em que o título não é dito na música (outro exemplo é Yer Blues). Enfim, esta canção é sempre muito inspiradora. A voz de John no início da canção é transcendental...


   Depois de 44 anos do lançamento desse grande disco, o guitarrista norte-americano Andy Timmons fez um álbum tocando TODAS as músicas do Sgt. Pepper's com sua guitarra fantástica. É um trabalho inspirador e você não consegue parar de ouvir música após música. É um trabalho que mostra o quanto o álbum de 1967 influenciou o Rock depois do seu lançamento e está fincado nos alicerces de muito da cultura ocidental que o sucedeu, haja vista ter influenciado muitas outras bandas e ter influenciado outras esferas da arte. É um trabalho eterno e que me inspira a cada dia. Traz lembranças de bons momentos em minha vida e me faz pensar como seria ter conhecido o álbum na época do seu lançamento, onde nada parecido tinha vindo antes e numa época em que não existia Internet, Smartphone, AppStore, o Cinema com toda a tecnologia que conhecemos hoje, os shows ao vivo sem o desenvolvimento acústico que temos nos nossos dias, etc. É difícil, mesmo depois de 45 anos de ter sido lançado, e de ter ouvido inúmeras vezes ininterruptamente, não se emocionar com as músicas e sua temática, com os pouco menos que 40 minutos de duração total do disco. Foram quase 40 minutos que marcaram os tempos que viriam. Só tenho a agradecer ao meu pai, a quem dedico integralmente esta postagem. E se você leu até aqui e acha que escrevi muito, lembre-se de que existem livros e mais livros sobre o assunto, e que o álbum durou algo em torno de 700 horas para ficar pronto, como dito anteriormente, e quase 1/3 de dias de um ano de trabalho; o pouco que deixo registrado aqui só mostra o poder que o disco exerce sobre a mente de cada um de nós. Esta foi apenas a minha forma de compartilhar algo, para mim, muito especial e marcante. Sem dúvida, eterno!!!
   Deixo alguns vídeos do disco do Andy Timmons e sua fantástica performance na guitarra; no fim do disco, ele ainda nos brinda com uma versão de uma música que quase entra no álbum dos Beatles, que é Strawberry Fields Forever, que viria no álbum do filme Magical Mystery Tour. Uma boa semana a todos.







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